quarta-feira, 16 de julho de 2008

7ª postagem

DA ARTE DO ARQUEIRO ZEN À MESA DE SINUCA

Possível conversa ao pé da mesa de sinuca, onde o narrador tem a chance de
vencer o jogo utilizando artifício legal mas considerado vil nos locais onde
o dito jogo é praticado, na qual os contendores divagam a respeito de ética.

- Em nossa vida temos uma série de objetivos que nos regem e nos guiam: casar, filhos, viagens, prazer, festas, ideais, mas com o passar dos anos o que nos resta? Começamos a entender o que movimenta esses valores, dinheiro é claro. Seguindo essa reflexão concluímos que um objetivo anterior é conseguir fundos para satisfazer nossas necessidades pessoais que chamamos objetivos. Trabalho, profissão, ética, lealdade, mega sena, questões comuns em nossos dias, diretamente ligadas a tão procurada ‘solução de nossos problemas’.
- Joga de uma vez.
- Calma. Costumo perguntar, àqueles que não estão doentes, se os problemas que dizem possuir não seriam resolvidos com uma bolada (sem trocadilhos, odeio trocadilhos). Após aqueles instantes de inquietação, entre o amor por quem lhes abandonou por um ‘personal trainner’ e ter feito comunicação ao invés de medicina por aquela ser mais fácil, a resposta vem tímida, “é né, até que seriam...” Então, se tudo pode ser descartado assim tão fácil, porque não empurrar a bailarina concorrente da escada ou chutar o fio do computador do colega ou derramar café sobre a máquina fotográfica do melhor fotógrafo do jornal? Não estamos partindo da mesma lógica? Se após poucos instantes elocubrando descartamos a quem amávamos perdidamente momentos atrás, o que diríamos de meros colegas de profissão (termo politicamente correto para adversário, não na questão esportiva, pois essa trás implícita um vago conceito de regulamento, mas no sentido mais secular, citado por Sun Tsu na arte da guerra, o de inimigo, oponente, concorrente, antagonista, contendor).
- Muito interessante, mas você poderia fazer o obséquio de bater na bolinha branca com o taco que está na sua mão jogando-a de encontro as outras bolinhas coloridas e calar a boca?
- Calma, preciso concluir meu raciocínio. Seguindo então. Chegamos em um ponto interessante, tendo como objetivo fundamental alcançar objetivos próprios, podemos até mesmo aceitar que, pessoas em posições hierarquicamente superiores, o diretor do jornal por exemplo, possam nos ditar regras e, que apesar dessas irem de encontro ao que chamamos justo, sigamos essas regras em prol de um bem maior, o nosso próprio.
- Tu vai me esnucá!! Esse papo é prá me esnucá!!!
- Não te precipita Bituca.
- Então joga porra.
- Já vai, já vai, deixa eu concluir. Já falei do arqueiro Zen? Não precisa sentar, calma, é rapidinho... O arqueiro Zen não errava o alvo nunca sabe por quê? Porque tudo era o alvo, só o que lhe importava era aquele simples ponto, centro do seu universo naquele instante, era só o que via e o que lhe interessava, o objetivo! Todo o resto era um simples simulacro da realidade, meros peões na sua percepção.
- Agora tenho certeza que tu vai me esnucá...
- Só estou tentando manter uma conversa coerente e sem maiores intenções..
- Então joga...
- Calma.
- Viu só?
- Já vou acabar, onde eu estava?
- Simulacro..
- Ah, sim! Portanto, se meu fim for justo, isto é, levar aos meus próprios objetivos, não preciso me culpar por tomar as atitudes que eu acho corretas, mesmo que, em outras circunstâncias menos favoráveis eu me colocasse em uma posição diametralmente oposta.
- Sei...Joga.
- Já que você falou em sinuca...
- Sabia que ia me esnucá.
- Que você faria se lhe pedissem para falar bem do FH?
- Que isso tem a ver...ah, mandava tomar no cu.
- E se essa pessoa fosse teu chefe, diretor da empresa onde tu trabalhas?
-... Mandava tomar no cu...
- É eu também..., tá sua vez, joga...
- Ué, tu não ia me esnucá? Prá que todo esse discurso então?
- Sei lá....

Um comentário:

Eduardo disse...

Profundo isso... como uma borboleta pousada num sino!